terça-feira, 2 de junho de 2009

Oceano Mar



"Pousa a caneta, dobra a folha, enfia-a num envelope. levanta-se, tira do seu baú uma caixa de mogno, levanta a tampa, deixa cair nela a carta, aberta e sem endereço. Na caixa estão centenas de envelopes iguais. Abertos e sem endereço.
Tem 38 anos, Bartleboom. Pensa que algures, no mundo, encontrará um dia uma mulher que desde sempre é a sua mulher. De vez em quando lamenta que o destino teime em deixá-lo à espera com tanta indelicada pertinácia, mas com o tempo aprendeu a encarar o facto com muita serenidade. Quase todos os dias, já há muitos anos, pega na caneta e escreve-lhe. Não tem nomes nem endereços para pôr nos envelopes: mas tem uma vida para contar. E a quem, senão a ela? Pensa que quando se encontrarem será bonito pousar no seu regaço uma caixa de mogno cheia de cartas e dizer-lhe
- Estava à tua espera.
Ela abrirá a caixa e lentamente, quando quiser, lerá as cartas uma a uma e repercorrendo um quilométrico fio de tinta azul apoderar-se-á dos anos - dos dias, dos instantes - que aquele homem, ainda antes de a conhecer, já lhe tinha oferecido. Ou talvez, mais simplesmente, voltará a caixa e, espantada diante daquela cómica chuva de cartas, sorrirá dizendo àquele homem
- Tu és louco.
E para sempre o amará."

Alessandro Baricco, "Oceano Mar", Difel - Difusão Editorial, SA, 1998


(imagem daqui.)

1 comentário:

th disse...

Encontrei! e este livro? será que tb é difícil de encontrar?