domingo, 26 de abril de 2009

A orla do mundo



As palavras eram o hálito que preenchia o sabor das folhas escritas. O riso, o tilintar do dia que garantia a respiração. Algures vazou-se o mundo e o hálito da tinta secou: desaguei no mar dos nadas onde não flutuam ilhas e não te vejo, luz.
Eu volto sempre, prometo. Mas deixa-me mergulhar, ir à orla do mundo, este estio, este negro que não é absoluto porque o sal o dilui. Esgravatar as ruínas até o aparo rachar, até à orla do mundo e ao som da memória. A que moldará a caligrafia que faz as noites vestirem-se de luzes e alumiam o escrito, que não o há mais belo que o dos silêncios exaustivamente contados enquanto o olhar se subjuga ao sorriso.
Do tempo em que o abismo era um longe que não existia; o tinteiro um rio sem fim e nele viviam deuses que, ora na orla do mundo, escondem as palavras que eram o hálito e o riso, a harmonia que o sorrir oferece ao escrito.
A garupa negra dum demónio roubou-me o tilintar do mundo, e quero mergulhar na tarja sombria para estrangulá-lo e refazer o tempo. Volto, prometo. Pelo riso, pela luz, pelo alar e pelo escrito.


(imagem algures da net, já não sei donde)

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