As chamas quando se levantam são inconstantes e traidoras. Foi longe, muito a oriente, que lhe viu o primeiro fumo. No delta dos prazeres, de sua gentileza arquipélago das Quirimbas. Um rolo de fumo trepando além da noite e dos fusos e incendiando o presente. Fogo. A carne dói e o nervo grita quando as chamas saltam da noite e reclamam-nos seu sacrifício, seu combustível. Lá, no arquipélago e na cerimónia não era assim mas foi assim que chegaram os fumos inquietos que nublaram o escrito, o quadro do pintor e a noite. Os pormenores tornaram-se a realidade. E não se viam os caranguejos fugindo pelas areias a caminho do mar, ou a jarra que ofereceu as flores que vestira e despira. Só as chamas o abraçavam.
O fogo na noite é negro e foi na escuridão que rasou a sombra, mas não beijou.
imagem: "O Grito", Munch; algures da net
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