quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

a pé-coxinho

ainda mal pus o pé na sala e já a Claire me desafiou para uma voltinha de dança. eu, pé de chumbo. eu, confesso de tanta coisa incluindo a de não saber dançar além dum espelho, terei de nele me mirar bem mirado e, excluído o coxear e a acne do adolescer seleccionar seis particularidades pessoais que não destoem daquilo que de facto o espelho mostra quando se gira assim enlaçado. tentarei, Claire, tentarei acompanhar o passo e fazer da timidez coragem quer para honrar o convite quer da multidão de reflexos que leio quando me miro escolher o núcleo, meus seis.

e é tão evidente e enche tanto o salão o pé-trocado que quem olha teme que o reflexo estale, enrugando o visível quando se olha de olhar-olhar: o coxo vagueia, não pára, de tanto se ficcionar acredita saber correr e até dançar. nada o detém quando embala e, inconstante, dedilha além da cartilha do seu saber: é vaidoso, o que naturalmente admira quem olha a dança e seu espelhar. vaidoso das suas manias volteia-se e desdobra-se, ora agora num slow acariciante ora além em ritmos do púbere que foi e em ritmo rock tenta recriar-se, saudoso de si-então: nostálgico qb. não fosse a sala de baile espelhada que não fazia falta ao reflexo que qual áurea o segue desde menino e moço com as vacinas em dia - e ainda não era coxo e sonhava uma noite mágica aprender a dançar: as Princesas... o fato romântico é aquele que melhor lhe cai quando se desnuda da vida, e acredita que viver sem amar não é viver (ele acredita mesmo nisso: disse-mo ontem e chorava).
mas... que se passa? afinal... o espelho, o bailar.... onde estás? estás a escrever-te? não estavas a dançar? narrador, personagem, naquele improvisando teclados e quando este tanto múltiplo... não, náo me surpreendo com isso, naturalmente. conheço o coxo e seu coxear e por muitas personagens que encarne a minúcia do algodão não engana tal como não é engenho ardiloso essa quase bi-polaridade de em extremos hoje herói e amanhã vilão, multi-personalidade que se a usa criativamente quando coxeia letras não se esquiva, inibe, de no saltitar dos dias não se ater a uniforme único e enquanto o gira-discos gira as suas melodias trautear outras, evolar-se num ai e em qualquer lugar: sonhador adicto.

outras há mas calharam estas e qualquer é relevante. quem me conhece apontará outras mas não nega estas. é que apanha-se mais depressa um mentiroso que um coxo :)

thanks Claire. há quem me ache egocêntrico e penso que há exagero. porém falar de mim, escrever de mim, é-me sempre qual íman haja oportunidade - e deste-ma. contrabalanço assim, acho, outra particularidade pessoal que omiti quer por vulgar quer por evidente a cinco linhas de lido: a timidez que me acompanha desde que de mim me lembro e que nunca me permitiu aprender a dançar além desta pista de papel tão maravilhosamente real que nela até o coxear parece virtual e, ao meu espelho, chego a sonhar que sei fazê-lo em pista aberta - convidaste-me! - e não no canto mais baço da imagem.

(não transmito. além de que nunca me senti à vontade nesta parte, estive tanto tempo fora que dificilmente nos próximos três meses todos os "nomeados" por aqui passassem e dessem conta do 'caderno de encargos'...)

4 comentários:

Claire-Françoise Fressynet disse...

na mesma pista dançamos tu manco e eu muda

Anónimo disse...

:)

uma flor para ti...!


c

Anónimo disse...

que bom que reabriste o teu "salão de baile" - a folha em branco onde a dança começa com a primeira palavra que escreves e a música se cala com os aplausos silenciosos de quem gosta de te lêr e de contigo dançar ao som das palavras, quando "coxeias" letras.

Anónimo disse...

:)

(ainda fico mesmo vaidoso lol)