terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Cristã


és-lo e tás cansada de sê-lo. das cruzes alheias e que te calha sempre carregá-las até ao monte das oliveiras onde machados decepam-te o esforço dobrado pois a tua não é leve, não. ah! como te sabe bem uma bilha d'água fresca nesse peregrinar...! e como te dói o escárnio dos estalajeiros desonestos que te dão vinagre a beber...! Cristã... ser cristã é isto? isso? sei que há momentos em que preferirias olhar as feras salivantes dum Coliseu... sei... e compreendo a tua revolta pelas cruzes sísificas, tantas além da madeira carcomida pela vida da tua, a tua. o peso. o vinagre enganador. as palavras enganadoras. queria deixar uma mensagem de alento, um ombro que ajudasse a tanto fardo, tão peso e tão abusado. tanto tão que ora que te soa a tanto, demais, sempre demais nem que não fosses frágil como és. és cristã mas humana (não vêm???)
chega! arreia o que não é teu! despoja o desperdício e deixa-o abandonado na tua estrada - eles que rastejem se a carga lhes pesar. sara o que puderes e amputa o que gangrenou. desde Galeno que é assim. salva-te Cristã...! salva o que ninguém te roubou nem violou. e nunca roubará e violará. sabe-lo: está dentro desse peito que teve forças para tanta cruz alheia que cobriam e escondiam a tua aos cegos hipócritas que faziam não vê-la e davam-te vinagre vendo-te sedenta. não acredites em duplicados de Sísifico, não tentes copiar impossíveis, Cristã. tens um dom que não é carregar cruzes alheias nem pedras intermináveis. tecla-te. soa, soa-te. acredita-me que quando o (teu) concerto soa apagam-se as luzes e o teu pisar é iluminado, que tantos de tão se erguem para ajudar-te na tua cruz mas não nas dos outros: esses vermejam nas sombras por não perceberem ou quererem perceber a tua luz linda, teclada, Cristã. eles não contam, excluíram-se no egoísmo. tu. tu, Cristã, tu sobrevives.

(imagem daqui.)

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