quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

amor e azeitonas


de há dias para cá sou constantemente criticado porque alimento-me com base em azeitonas. não ajuda acrescentar que estão deliciosas de bem temperadas e uma fatiita de pão não é rejeitada. calo-me ao outro alimento pois o segredo é fundamental para o sucesso dum mestre-cuca e, se rico em proteínas que fazem bem a toda a gente a verdade é que essa tisana emocional em feliz regra atravessasse à frente de todos e várias vezes. e combina maravilhosamente com azeitonas.

a minha indignação pelo desprezo à minha dieta farta é inglória, vã. penso que as pessoas apreciam mais melancias, gordas, fartas, fartas d'água e cor que se esfarela entre os dentes e a língua sem nota de tempero e sabor ao palato como... as azeitonas. vãos de gula e míopes à proteína fundamental.

e aqui recordo um filme que vi salvo erro de arquivo no cine-clube de Lourenço Marques e nos idos princípios dos 70's, em que os actores, Virna Lisi e Jean-Paul Belmondo sei lá já como e porquê vivem numa ilha o seu amor e alimentam-se dos frutos dalgumas oliveiras que a habitam para o pedaçito de terra entre águas não ser apenas calhaus e terra. eis que a minutos tantos da fita e desta estória aterra lá uma avioneta donde sai um "louro Hans" qualquer (personagem secundária; o carrasco nunca é o actor principal) que sem palavra vai desata a abater à machadada as oliveiras. os apaixonados insurgem-se pois, reclamam, necessitam dos frutos das árvores, as azeitonas, para se alimentarem em complemento à proteína, o seu amor. a tanto ele é surdo e o machado não pára pois reclama da sua razão de propriedade dado, alega, ter sido ele que as plantou quando nos tempos de juventude e da WWII, aviador do Reich, fez na ilhota selvagem e nua uma aterragem forçada e - aqui presumo nesta liberdade que as décadas dão para se rechear as brancas numa estória e torná-la comestível - e, dizia, fazendo parte da ração de sobrevivência azeitonas plantou os carocinhos, hoje oliveiras, hoje suas e vai daí machado em cima por pretender encerrar a golpe duro e letal essa página da sua vida.

não me recordo do final, se a importância intrínseca das azeitonas foi atendida pelo Hans e os amantes viveram felizes para sempre sem recurso a melancias, que a 'sua' ilha não produzia. não me recordo. mas até minutos tantos da fita e até o mau da mesma aterrisar Virna e J-Paul alimentaram-se de azeitonas.

só me alimento do que recordo. azeitonas. proteínas. uma ilha e um amor. sei que há Hans em todos os cantos e machados sibilinos que decepam em golpes cruéis de propriedade as oliveiras que alimentam mesmo quando é a única cultura das Ilhas onde, a bem da realidade da beleza das coisas pequenas e lindas não há melancias que ceguem o olhar e ocultem as azeitonas. a golpe duro e letal essa página da sua vida.

a minha argumentação não é atendida: sugerem sopa, batatas fritas ou cozidas, um naco de carne e até atum em lata. por acaso - somente por acaso d'época frutícola, acredito - não me sugerem melancias. mantenho-me nas azeitonas e tenho tudo o que preciso até Hans e o seu machado aterrisarem.

estou errado em ser gastro-cinéfilo e assim me alimentar, azeitonas e tempero, desde que aprendi a ler a tabela de calorias e na roda dos alimentos vi que nem todos são iguais para degustar, apaixonar o palato?


Correcção: a bela do dueto não era a Virna Lisi. era a Cathérine Dénèuve. nem sei como fiz a 'troca', até porque a Cathérine era a minha 'musa de celulóide' ao tempo da 1ª adolescência.

(azeitonas daqui. aspecto delicioso. por isso trouxe um pires... :)

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