sábado, 8 de novembro de 2008

epistolar geracional: as manhãs longas da rádio comercial




" (...) Se o nome do programa não era ou é assim, era ou é parecido. Veio-me à tola pelas manhãs. Rádio só ouço no carro. Rádio só ouço quando não tenho um título e veio este como podia ser amêijoas ou este bzzz que se vai perdendo na névoa da manhã - vera: às oito estava nevoeiro e agora subsiste aquele céu pardo sem azul, nem abre nem deixa abrir. As nuvens, farripas brancas, são dunas do céu mas ausentes de sol pois o céu não está azul e nele elas são um cortinado branco. O "bzz" era uma irritante avioneta que já fugiu. Levou o megafone publicitário que passou aqui perto e, embora sejam onze e meia da manhã e fora residuais sornas não acordou ninguém, soou-me tão chato como nos domingos de manhã os doidos dos grupos dinamizadores acordavam o people de madrugada para irmos dar uma de escravo-proletário e revolucionariamente varrerem-se os passeios no dia de folga dos 'almeidas'. Tontos. Tontos todos, que nem a sorna histórica se curtia sem ou o megafone ou a consciência nos arreliar. O marxismo-freakismo* tinha destas contradições: pureza ideológica nas leituras e vivas incendiados, praxis bem curtida nas longas manhãs da rádio comercial cerrando ouvidos a bzzs parolos e a mão tacteando a mesa-de-cabeceira à procura da beata do último charro da madrugada.

«To yendi pa Mozi, Ni M’tima umô! To yendi pa Mozi, Ni M’tima umô! Olimbá – olimbá moîo! To yendi pa Mozi, Ni M’tima umô!».

Não, o título está errado mas não vou modificá-lo. Sabes porquê, não sabes? cá não tiveram grupos dinamizadores pois conheci os “gdups” do Otelo e não tocavam às campainhas, menos ainda berravam megafones nos domingos de manhã estivesse o céu como estivesse. Mas as vassouras ideológicas eram iguais, cá mais diversificadas hertzeneanamente e não duvido cagajésima em como uma rádio comercial qualquer estava sempre sintonizada em azucrinar os miolos aos sornas dos domingos de manhã. Ao marxismo-freakismo que mesmo no nevoeiro das ressacas guiava a mão à tal beata e flash!: quanto vestíamos a farda nos nossos corpos nus e então ainda 'esbeltos' (quéessamerda? existem mentiras assim tão... esbeltas? :( , bem, quando enfiávamos o "cafetan" pela cabeça, apertávamos as jeans e calçávamos as sandálias já o colar ou a pulseira de missangas fora posto, resistente marco colorido cravado no cinzento revolucionário. E, assim, se ia construindo o marxismo-freakismo passo a passo até à derrota final. D'ambos: já agora gozo o meu momento mordaz do dia. (..)"


* o baptismo não é meu e sei de que tasco veio. não linko. não vale a pena. gostei tanto dele, senti-me tão identificado na justaposição tanto como sei que "eles andam aí": mais haverá - há. há que eu sei - que sentem o mesmo por ela e daí a linkagem estender-se-ia como urze numa colina bravia. se os bancos falidos são nacionalizados também as memórias das ideologias igualmente comatosas podem sê-las. e quem não gostar... vá-se "queixar ao Totta" - 'lol' acidental e circunstancial.


“charlie”




(imagem do brazão moçambicano pescada aqui. gostei de revê-lo. daí que cai que nem ginjas e gamei-o. thanks. na outra tou eu a passear a Becas no lago do Zambi, LM, em 1975. a Becas era a minha 'chefe' no job :) e o que tenho na boca muito provavelmente "é" ;)

2 comentários:

Anónimo disse...

Vê-lá se te dás conta de vez, que ao escreveres como o fizeste acima, nos estás também a devolver A "Memória".
Abraço,
F

Carlos Gil disse...

... e ela é um saco cheio e fundo pra caraças, F. ... pra caraças mesmo...