"- Meu lindo cãozinho, meu bom cãozinho, meu querido totó, aproxima-te e vem respeirar um excelente perfume comprado no melhor perfumista da cidade."
E o cão, agitando a cauda, o que é, creio eu, nestes pobres seres, o sinal correspondente ao riso e ao sorriso, aproxima-se e pousa curiosamente o focinho húmido sobre o frasco desarrolhado; depois, recuando com repentino receio, ladra voltado para mim, à maneira de censura.
"- Ah! cachorro execrável, se eu te houvesse presenteado com um pacote de excrementos, tê-lo-ias farejado com delícia e talvez devorado. Assim, também tu, indigno companheiro da minha triste vida, és semelhante ao público, ao qual nunca se podem apresentar perfumes requintados que o exasperam, mas sim porcarias cuidadosamente escolhidas."
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"O Spleen de Paris", Charles Baudelaire, Ed. Relógio d'Água, 1991
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