domingo, 9 de setembro de 2007

lidos

as pausas forçadas têm uma óptima vantagem: ajudam a por as leituras mais em dia. li muita coisa boa, felizmente. posso dizer que nestes quinze dias não li um livro mau. óptimo. o realce que deixo é de ter avançado por autores brasileiros "não tradicionais", nomes que me eram desconhecidos e provavelmente a quase todos nós pois, habitualmente, nas livrarias só se encontram os nomes feitos, os tradicionais. valeu a pena, e de que maneira... tanto, que já me reabasteci de mais 'meia dúzia', em tiros no escuro quanto a nomes de autores/títulos: sem medo, a experiência foi muito positiva. lidos: "Capão Pecado", Ferréz; ""O canto da sereia", Nelson Motta; "Curva de Rio Sujo", Joca Reiners Terron.
dos outros, sem surpresas (agrado) o último Le Carré, "O Canto da missão", embora com final um bocadito 'cândido'... deliciei-me - é a expressão! com o "Doutor Pasavento" de Enrique Vila-Matas, livro a que tornarei pois há muito para falar acerca dele, e de como me cruzei com ele/ele. muito mesmo. divertido (e instrutivo...), "contos de colarinho branco", Paulo Morgado: eles andam aí, não passamos a vida a queixar-nos? então 'bora lá aprender "como é que elas se fazem...". li também o "Foi assim", de Zita Seabra. fiquei a saber como foi com ela, ora que já sei de mim. sem surpresas (dela, da praxis do partido ou da ideologia).
o que tenho em mãos: "cartas de Jack London", em laborioso trabalho de tradução de Ana Barradas que serve também uma excelente introdução que vai além de explicatória da sua relação literária com o Autor. estou a folheá-lo sem ordem cronológica, lendo-lhe bocados da vida. há ali pérolas. na pág. 166, a carta "ao editor de Ability":
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Oakland, Califórnia
20 de Fevereiro de 1905
"Caro Senhor:
Sempre que um escritor é sincero acerca de um manuscrito (ou livro) de um autor amigo, perde essa amizade ou vê-a diminuir e desvanecer-se, tornando-se uma sombra do que foi.
Sempre que um escritor é sincero acerca de um manuscrito (ou livro) de um autor que não conhece, ganha um inimigo.
Se o escritor gosta do seu amigo e receia perdê-lo, mente ao amigo.
Mas vale a pena o esforço de mentir a quem não se conhece?
E, já agora, de que serve fazer inimigos?
Além disso, um escritor conhecido é assediado com pedidos de estranhos para ler os seus textos e dar opiniões sobre eles. Ora essa tarefa é de um gabinete literário. Um escritor não é um gabinete literário. Se cometer a tolice de se tornar um gabinete literário, deixará de ser escritor. Não terá tempo para escrever.
Ademais, como gabinete literário caritativo, não receberá nenhum pagamento. Portanto depressa entrará na falência, terá de viver da caridade dos amigos (se ainda não fez deles todos inimigos por usar de sinceridade) e verá a mulher e os filhos seguir melancolicamente o caminho do asilo.
Acho muito bem a simpatia pelos desconhecidos que se esforçam. É bonito... mas há tantos desconhecidos a esforçar-se! Devem ser algo como vários milhões. E a simpatia pode sair muito cara. A simpatia começa em casa. Mais vale ao escritor deixar que essa multidão de desconhecidos se mantenha desconhecida do que permitir que os seus próximos e aqueles que lhe são queridos ocupem enxergas miseráveis e tenham de se entregar a trabalho insano.
Cumprimentos,
Jack London"

2 comentários:

th disse...

E eu penso...no que leio...nos outros...penso no que penso...e pouco tempo me resta para ler...

th disse...

eheheheh...agora tens censura?