olho as estantes, cheias, a abarrotarem de páginas por ler. delas vem o cheiro de naftalina dos sonhos acabados no tampo desta secretária onde não há um papel escrito que valha a pena ler, e se levanto os olhos vejo o diário virtual que anos de monitor me mostram. o resto do cenário é o princípio, meio e fim do post.
há coisa dum mês e picos atrás, um tipo que conheci e que é um gajo porreiro, pensa e escreve bem e é tão razoável no trato como qualquer urso fora do habitat, felizmente, enquanto me indicava uma nesga de sol - "o mais importante...", segredou-me - pôs-me a Dúvida assim, os olhos mirando a tal nesga de céu que valia a pena olhar: «e será mesmo importante ser lido?» eu fiquei calado, sentado no muro como se tivesse recuado no tempo e estivesse de novo a começar, a reparar minuciosamente na laçada, a pergunta certeira, lança, lança em flanco com muitas fraquezas, e que ficou mal sarado pelos vistos com esta pluri reincidência, já mania.
leio parte da resposta aqui. parte. a parte que me diz que, lá calha, há vezes em que 'se escrevem' coisas catitas, peças de boa escrita e cheias de substracto, "bem esgalhadas". fora nove-em-dez que são rascunhos e ideias abandonadas, rolinhos de papel que fazem qualquer um armar-se em basquetebolista e 'sacar' dois-pontos sem espinhas, pumba no cesto. coitado do blogue: de vez em quando enche, enche, e no tampo da secretária nada. leio a parte que diz que o escrever para municiar bolinhas de papel, com elas a caminharem para o cesto sem fazer tabela no monitor, é coisa em nada compadecida com o gasto contínuo da produção diária de posts, o gastar da criatividade na escrita, "secá-la". portanto muito do que se 'edita' num blogue non-stop (todos) deveria em vida não virtual não ter outro caminho senão o óbvio, o caixote do lixo do que sabe que, tentando de novo, faria muito melhor que aquilo, bolinha de papel e dois-pontos, começar de novo, afinal as estantes preservam tanta coisa boa. qualquer bloguista o sabe, mesmo as 'eminências' quer dum quer do outro mundo, escritos.
falta a outra parte. o Sol que brilha numa nesga e dá gosto ficar a senti-lo - a única resposta que em mim encontrei, lá, lá à porta do meu então 'topo do mundo', uma espécie de congresso de escritores. o orgulho de quem escreve é o seu sol, essa chama aquece-o. olha para as estantes e acredita, e esses momentos quando acontecem há vezes em que geram coisas de que há orgulho suficiente para desejar serem lidas, (com muitos dois-pontos no meio, não esquecer... ), é tão bom estar ao quente do sol, nesga, nesga boa em manhã chuventa, tristonha. a nesga é a outra parte: está lá o sol que se procura, sentado no frio muro de cimento do quotidiano. porque há coisas que escrevemos (todos) e de que nos orgulhamos, tanto que as desejamos lidas por não duvidar em que serão apreciadas.
força. toda a força a quem pensa e escreve bem e é tão razoável no trato como qualquer escritor pode ser - ei-los bichos, e a Rosa Montero contou-o bem no "A Louca da Casa", tanta página onde me vi ao espelho... há um mês e picos que me releio e penso em tabelas de basquetebol. a pergunta: "será mesmo importante ter um diário público, um blogue?"... e, parando, que laços se quebram? é justo fazê-lo, havendo quem queira 'saber de mim', o que escrevi? clic, e acabou-se, morre? a verdade do meu lado é a de que dei mais um erro ortográfico e este é o quinto blogue, com umas três (com esta) promessas-e-juras de ser aquele o abandono definitivo. mas verdade verdadinha é que tenho o tampo da secretária vazio, olho para cima e vejo as estantes cheias com tanto livro que nunca conseguirei ler, e, mais perto dos dedos e na beira do tampo da secretária vejo o monitor, carregado de ensaios & bocados, um ou outro conto ou crónica com princípio meio e fim e cosidos em escrita de "está bom, não mexe mais".
ela também vai manter a folha-em-branco do monitor e, lá, eu e ela e todos fazemos tabela quando atiramos posts-rolinhos de papel, para dois-pontos e começa-se mas é outro que aquele 'já era'... que haja força para manter o outro registo, o papel não público antes de terminado, o 'não ser lido' antes de ser realmente importante sê-lo. o "escrever no papel". olho as estantes e penso que do bom que tenho lido extraio o que não vou conseguir ler, e perder por não ter encontrado essas palavras que alguém pensou como importantes de serem lidas, encaixilhadas em formato standart. que, seja sobre que tampo for, têm é de ser escritas pois tu sabes fazê-lo, e bem: FORÇA, MUFANA!
4 comentários:
Caramba, Gil... sabes, acho que ando há muito a censurar-me por nunca mais ter escrito para depois enviar o texto a uma editora e é esse o meu único problema. É verdade que resolvi pôr a culpa no blog, assim a modos como daquela grande bezana que apanhei uma vez, a meio da faculdade, e no dia seguinte decidi dizer que a culpa era das lulas que tinha comido no 'Estibordo'... isto é - e ainda vou a meio e já acho que não estou a conseguir responder-te...
Facto: um bicho que trabalhe de 'escravo' e só chegue a casa dez horas depois, vem estoirado. Se após 'sesta' e jantar, ainda vai para os blogs, onde derruba o que lhe vai dia-a-dia na cabeça, nada deixando a carburar no subconsciente, deita-se a seguir sem uma 'outra' ideia mais 'estrutural'.
Ora, dizia-me um grande bloguista, o ano passado, que apesar das 3 horas nos transportes e das 7,5 no bordel, é preciso vencer cansaço e preguiça, e não desistir de escrever. Eu disse-lhe 'pois é', mas até hoje ainda não o consegui... e sabes como é: quem não tenta, também não avança.
Sou uma autora iniciante. Mas vê os grandes bloguistas que frequentamos: os tipos são bons quase todos os dias. Estás a ver a MVC com os meus problemazinhos quanto à qualidade da escrita? Eu também não.
Olha, fico por aqui. Quanto aos que me censuram ter-me metido nisto, os dois senhores da escrita, a verdade é que, assim que me meti no primeiro chuinga, já estavam a 'agoirar'.
Eu 'um dia' reencontro-me lol - mas a verdade, verdadinha é que isto da net é de fácil vício e como a ti, também me agarrou. E tu sabes como eu gosto de mandar bocas e fazer comícios, i.e., algo que cabe que nem uma luva num blog...
Um beijo grande para ti, é um prazer ler-te e e-sentir-te por perto!! - muf'.
Vou linkar isto ao 4 e 5.
Muda o link para 4 porque o 5 já foi ver o lago... - muf'.
Queria mesmo estar a par, mas não estou. Chego ao Chuinga e ela manda-me para aqui. No entretanto das minhas missões possíveis, tento deixar umas linhas, mas o All...garve é uma miséria para as linhas, para os cabos, para as redes e vão-se embora as linhas e com elas as poucas ideias que vou conseguindo ter...
Vão-se explicando, um e outro, mas por amor de Deus, continuem a escrever como só cada um sabe e sente.
Uma Páscoa feliz!!!!!Beijos aos dois
Um beijo Madalena!!, IO.
E claro que continuamos a eskrever, senão o que lerias tu no All garve...?
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