quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Não Digas Nada!



Não digas nada!
Nem mesmo a verdade
Há tanta suavidade em nada se dizer
E tudo se entender —
Tudo metade
De sentir e de ver...
Não digas nada
Deixa esquecer

Talvez que amanhã
Em outra paisagem
Digas que foi vã
Toda essa viagem
Até onde quis
Ser quem me agrada...
Mas ali fui feliz
Não digas nada.

Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"


(quando se embala a crosta da dor, com medo, protegendo-a, ela ainda tão delicada. quando a tristeza não morre porque não há morte. e - principalmente isto!, quando se tenta abafar um ressentimento sem fim, tão sem fim como se os meus olhos fossem só memórias. não digas nada)

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