sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

"O desaparecimento do erotismo" - Mario Vargas Llosa



lendo o estupendo ensaio de Mario Vargas Llosa "O desaparecimento do erotismo", in o seu recentíssimo 'A civilização do espetáculo' (Quetzal, 2012), concordo com o cerne e estendo a concordância a resmungos pessoais.

moro nas traseiras duma escola secundária, e as minhas janelas fronteiras dão para o largo pátio onde os putos e as pitinhas brincam, seja num futebol guerreiro onde as hormonas emergentes fazem os rapazes competirem na asneirada gritada, para se sentirem e afi...rmarem assertivamente machos-alfa, seja em namoros nos recantos, onde as hormonas emergentes produzem encantadores amassos que, até a mim, vizinho-voyeur, me fazem sorrir. e tudo isto está certo.

estendo o sorriso e puxo por mim, recantos de mim. o frisson que era espreitar umas pernocas no liceu, sempre na esperança da glória magna, o tremendamente erótico branquinho das cuequinhas. um beijo trocado nas escadas 'de trás' do prédio, com a atrevida da miúda da flat de baixo. a perna-colada-com-perna, fosse no machimbombo ou noutro aperto casual ou estimulado, e o cavalgar de emoções e imaginações que esse momento mágico dava. as sôfregas e secretas leituras dos livros proibidos, à procura das páginas onde 'aquilo' acontece... e nos fazia 'acontecer', atrás duma porta de quarto de banho fechada. enfim... e tudo esteve certo, certo na idade própria. crescer, na descoberta e no enamoramento do 'proibido', olhado(s) com bonomia maliciosa pelos 'mais velhos'.

Vargas Llosa, com a acutilância e a elegância próprios de quem é, diz isto e muito mais sem recurso a baús próprios mas fazendo um olhar global sobre o 'estado d'arte' do erotismo no estádio actual da nossa civilização. indigna-se com o concreto e extrai abrangente: «(...) é um erro acreditar, [como os promotores deste movimento libertador,] que, dessacralizando-o, despindo-o dos véus, do pudor e dos rituais que o acompanham há séculos, abolindo da sua prática toda a forma simbólica de transgressão, [o sexo] passará a ser uma prática saudável e normal na cidade. (...)». o movimento libertador é emulado no 'leitmotiv' que deu razão de ser ao indignado ensaio: dentro do seu plano de educação sexual dos alunos, uma Junta autónoma de Espanha (a de Estremadura) organizou, em 2009, "workshops de masturbação" para rapaziada de ambos os sexos, e a partir dos catorze anos. pobres meninos e meninas que, aos catorze, necessitam de "workshops" para saberem-como-fazer. pobre sociedade pseudo-refinadamente esclarecida que em tal acredita, e força a nota promovendo sessões 'didácticas' - «num exercício sem mistério, dissociado do sentimento e da paixão» - de assassinato dos caminhos a trilhar, naturais no crescimento.

termino a arenga resmungona naturalmente recomendando o livro. que vai mais além, muito mais, mas só pelo ensaio em causa já se justificaria. ah! aproveito e explico-me: a tradução respeita o malvado AO '90. que dá origem a esgares, como aquele que nasce só ao olhar para a grafia usado no título. porém há que fazer concessões, quando não há alternativa. e, este livro, é fundamental lê-lo

atracções virtuais

a sedução do facebook? da blogosfera? em olhar mais lato, da Internet inter-activa?

nada de novo, afinal. os livros que valem a pena foram escritos por gritos que se sentiam amordaçados

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

kit de emergência social

 

devia dar-se e não vender-se. a necessidade é tanta que as 'leis de mercado' não são aplicáveis: uma razão social. colectiva. um "Banco Sentimental contra a Solidão" fornece um tubo de imediato a cada inscrito. kit de emergência. sem perguntas. mas com um sorriso, uma expressão bonita de solidariedade.

e cura-se o quebrado. refazem-se as células, recria-se o pulsar agitado, o borbulhar de peitos, um sorriso às nuvens e a quem passa. acontece. cura-se, sara até a cicatriz fo...rmar o desenho dum novo sorriso, nem que inicialmente seja um sorriso melancolicamente triste.

mas sorri-se, e é fundamental sorrir quando se abrem janelinhas à memória para que o seu lado bonito vença, e dos cacos recriamos outra decoração para os nossos 'gordinhos'. sem alarido, ou síncopes. trauteando o reviver, e com uma pirueta feliz e rabina ao primeiro passo dos sempre (sempre!) novos passos ;-)

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

ocasionais

por exemplo, [agora] a viola. as muitas violas que ocupamos, para os dedos não ficarem impacientes com a monotonia
 

"Os amigos de Alex", versão caseira

o João Carapinha esteve cá, na sua visita anual "amigos de Alex". foi bonito! e eu, tão bonito que estava quando retornei ao casulo! :-))

post scriptum escandaloso: há pouco, a dar uma revirada aos bolsos à procura do isqueiro, até encontrei duas beatas de 'coisa boa'! :-))))

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

um bom Dezembro

O lugar do amor, António Osório
O pintor de sombras, Esteban Martin
O impostor, John Banville
Qualquer pessoa dá um assassino qualquer, João Rosas
Não é meia-noite quem quer, António Lobo Antunes
A história da minha máquina de escrever, Paul Auster
A noite dividida, Sebastião Alba

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

e chovia


hoje fiz uma visita daquelas que cada vez mais escasseiam "por inutilidade superveniente da lide", e fui ao meu Banco. segui um caminho diferente para lá e outro também diferente para cá: já que saio do casulo que aproveite as vistas.

e que vi? está certo que aquela zona nunca foi famosa para comércio: essencialmente habitacional, e do outro lado da avenida um extenso jardim que fora do Verão pouco é frequentado. mas mesmo assim: na correnteza de prédios em causa contei deza
ssete lojas, das quais duas abertas: uma mercearia de bairro com pretensões a loja gourmet de província, e um cabeleireiro. o resto? pó. escritos. panfletos e envelopes acumulados nas caixas de correio e sob as portas. desanimadas placas esperando futuros. uma, com 'papéis oficiais' colados nos vidros. em dezassete, quinze fechadas.

foi mais triste que a visita ao Banco, acreditem-me. o mundo está virado ao contrário.

Desiderata



Sim, meu amor, às vezes, muitas vezes, embriago-me de mim.
Sou disso e pior ainda, como sonhar com sonhos, ou morrer acordado.
Não tenho nada para dar, mas prometo roubar o que puder, assim, amor.
Não garanto nada que possas lembrar, mas sou fácil de esquecer.
Declino-me em tudo o que é fraco e pobre, e desilusões também sou.
Ranjo os dentes a dormir e grito os nomes de outras mulheres.
Engano-me mais do que a ti, mas vou enganar-te a ti.
Tirando isso, prometo-te tudo, por quem me tomas, amor?

Nuno Camarneiro

domingo, 16 de dezembro de 2012

boletim metereológico maia

que se lixe o OE, o Cavaco, o Passos Coelho, as greves, a troika, e a pata que nos põe a todos lixados! se os Maias não se cortarem estamos safos!

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

c'est la meme chose...



há sentimentos extremos. quer no sentido de opostos, quer de nos extremarem quando nos tomam e arrebatam. e directo ao que interessa, ao que este cartoon me fez [arrevezadamente, tá bem...] pensar: amor e ódio são assim tão diferentes? _quando o 2º nasce em solo lavrado pelo 1º?

creio que não. quem ama nunca esquece, é lugar comum filho da boa sabedoria. quem odeia o ser amado não deixou do amar: está enraivecido por uma desilusão profunda, e chama doutro nome o que afinal é igual e o mesmo: amor. dorido, sangrando, rosnando, mas é amor. venha o gesto, a palavra, o olhar certos, e qual ódio qual quê... amar também é sofrer. odiar com aspas.

não é hobby. amar é a tempo inteiro. mesmo quando se "odeia".

o behaviorismo e um livro que foi filme de sucesso: "A laranja mecânica", de Anthony Burgess


o artigo de Anthony Burgess que vem na edição de hoje do Ípsilon, "A condição mecânica", é fabuloso. datado de 1973, quer por tratar da génese cognitiva do seu romance "A laranja mecânica", e posterior postulado multidisciplinar elaborado após o sucesso que obteve via a adaptação cinéfila de Stanley Kubrick, não tem réstea de datagem que nos condicione, hoje, na sua leitura: as noções de 'bem' e de 'mal', da liberdade do indíviduo perante elas e as interrogações acerca dos limites ao Estado ("a sociedade") no seu condicionamento, não sofreram alteração de monta que levasse a, se escrito hoje, o cerne da obra (o livro; o filme; agora o artigo) fosse diferente.

é para guardar. separar as folhas do jornal e juntá-las onde tudo se complementa: dentro da obra, precioso auxiliar numa desejável releitura, das tais 'um dia'. nem que nunca aconteça, é lá o seu lugar. entretanto recomendo a leitura. do artigo, tão e já acessível. do livro, quando puder ser. o filme até é fiel, mas...

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

melhorar o facebook



proponho que em vez do ilusório 'Sair' esteja um realista 'Até já'.

livralhadas


«Además te quiero, y hace tiempo y frío»

Julio Cortázar

bonitas

«o que é a felicidade? o máximo que conseguirmos ter. o resto não se chama assim: chamam-se nuvens. bonitas.»

Sir Charles B. Walters

domingo, 9 de dezembro de 2012

em jeito de berreiro:

QUERO UMA VIOLA NO NATAL! (humpf...)

à volta dos "The jazz composer's orchestra": '76, Lisboa, e o novo mundo ali ao lado


 "The jazz composer's orchestra": em 1976, numa 'república anarquista' em que vivi, em Lisboa, ali a bordejar a Praça das Flores e a Assembleia da República, pertinho dum supermercado 'Pão de Açúcar' onde revolucionariamente nos abastecíamos de bifes de perú e de meios-repolhos, uma casseste num contínuo sem fim. eles. demorei estes anos todos a voltar a encontrá-los.

estou a ouvir. não é igual. falta. falta quê? o momento. a névoa. tudo. mas ouço. respeito por mim que-fui (e por eles, eles todos; a cassete e a ouvi-los), pelos momentos que lá vivi. sem pinga de humildade - ou qualquer outra coisa assim, não foi uma licenciatura da arte da vida mas sim seu mestrado. explico-o sem dificuldade

sábado, 8 de dezembro de 2012

porque hoje é sábado


"matiné de carinho"

hoje queria ir ver um filme antigo,
tão antigo como nós.
do tempo em que o cinema era-nos especial
e escondíamos as lágrimas que se colavam como feitiço.

e ríamos tanto, tanto, antes e depois do filme
que o seu bilhete era a porta íntima do mundo.

hoje queria estar contigo,
e voltar a ver os nossos filmes um por um.
as lágrimas, o riso, a centelha de te tocar no braço e acreditar
que há momentos como o princípio do mundo.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

é.... "às vezes" é a sensação que fica...

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

o 'pater familias' (e a corrupção). África ensina-nos

 
de África, sabe-se, veio a espécie humana. que depois se espalhou pelo globo, pigmentou-se e adquiriu características físicas e sociais conforme uns dois ou três milhões de anos de desenvolvimento regional ditaram - as 'raças', até chegarmos a este "melting pot" que nos faz o que somos: diferentes, mas de matriz única: a Humanidade. é a antropogénese, é a nossa História.

e África não pára. ensina-nos. dá-nos matrizes, dá-nos esperanças. a parvoíce chauvinista norte-caucasiana faz hoje parangonas em jornais (e nas 'redes sociais'...) em como um país africano de nome com sons exóticos nos ultrapassa no índice de 'menor corrupção', como se tal fosse a vergonha suprema. discurso feio pelo que radica sob a sua pele, a pigmentação moral. mentalidades que não se abandonam facilmente. infelizmente. mas enfim...

Roma, o grande Império Romano, a par da civilização grega e dos ideais da revolução francesa um dos baluartes do que somos, a dita Civilização Ocidental, possuía no seu escalonamento social e como figura máxima da instituição Família o "pater familias", consagrado até no seu Direito. dele, Direito Romano, emanou muito do nosso actual. bebemos nele muitos dos conceitos que são trave e varão do nosso, e o estudo do direito romano ainda é considerado indispensável à correcta compreensão dos sistemas jurídicos de hoje.

esta seca toda como introdução ao filminho-documentário que agora peço que vejam. com mente aberta. olhando (novamente...) África como fonte. abusando do paralelismo fácil e a jeito de piadola, de (me/nos) interrogarmo-nos se este será o [natural] sucedâneo do 'pater familias' romano. interrogarmo-nos igualmente se, de África, virá em nosso benefício mais do que o bom exemplo de desenvolvimento e práticas anti-corrupção do Botswana. Angola, tão mal classificada nesse índice - 157º lugar - tem outros onde dá cartas: do seu Sul, a rasar o deserto de Namibe, o sr. Tchicuteno explica como. aprendamos, irmãos! sem stress... :-)
 
 
 

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

as virgens e as quecas. ou, recordando 'O Meu Pipi'




lembram-se do blogue "O Meu Pipi"? o blogue que no início do milénio acordava Portugal e punha-lo a rir? _era campeão de audiências, e 'tudo' que tinha net no job não começava a carimbar papéis sem primeiro sacar 'um sorriso sacana' lendo O Meu Pipi. e comentando-o, gargalhando, com os colegas

eu lembrei-me de repente. um repente abençoado, porque deste post especialmente: a 'crítica' duma queca "numa crica virgem, de 72 anos".

leiam que vale a pena - todo o blogue: um humor fantástico, e muito bem escrito. durante muito tempo aventaram-se nomes de vários escritores como putativos autores do blogue, embora muito mais tarde se veio a saber a autoria: uma prof de português

saco este naco. este bom naco:

"A broca entrou às 19h45. Às 19h48 estava a perfuração concluída. Em vez do tradicional sangue, saiu uma mistela verde. Digo eu: 'Vamos lá a ver se não tem já a pachacha estragada, minha senhora. Isto devia ter começado a ser consumido por volta de 1945.' E ela: 'Como diz?' E eu: 'NÃO SEI SE O PITO AINDA ESTARÁ BOM!' E ela: 'Como diz?' E eu: 'O PITO, O PITO! … É CAPAZ DE JÁ ESTAR PASSADO!' E ela: 'Escarranche-me mas é isso, jovem.' Escarranchei. A velha sorria infantilmente. Digo infantilmente por duas razões: primeiro, porque era um sorriso germinal, novo, de descoberta; segunda, porque a velha não tinha dentes, e por isso ria como os bebés. No final, confessou-me que não se lembrava de ter tido uma sensação tão forte na vida tirando a trombose."
 
e há livro, está à venda aqui.