é típico dos finais de ano, e não resisto a dar uma olhada - várias vezes gulosa - a estas listas «os 10 mais de... ». alguns já por cá andam, para outros alerta-se a atenção para futuras traduções a aguçarem apetites a curto prazo. hoje caiu-me o olho na da famosa The New York Times Books Review.
um dos da listita dá-me comichões especiais: Americanah, da minha muito querida nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie: já anda pelas nossas livrarias, mas quanto a este infeliz que vos escreve as minhas mãos ainda estão órfãs dele. é triste!... sim, vem aí o Natal, «tô a pidir...»
calha ainda que terminei ontem o seu (de contos) A coisa à volta do teu pescoço, que não matou as saudades da autora deixadas pelo fabuloso Meio Sol Amarelo - para mim o seu melhor romance, superior ao A cor do hibisco, e um dos melhores de sempre de escritores africanos - nem achei que fosse uma colecção de contos memorável. porém houve dois que mexeram comigo.
um, o "Embaixada americana", fez-me mesmo pousá-lo, incomodado em bom sentido, reflectindo sobre noções como dignidade e honra versus a primária sobrevivência, ou os caminhos a tomar para o mal-são «temos de seguir em frente...», após um profundo abalo psicológico e emocional, não se tornarem um trilho que um dia nos surja como uma opção para minimizar a dor de que nos envergonhamos.
um, o "Embaixada americana", fez-me mesmo pousá-lo, incomodado em bom sentido, reflectindo sobre noções como dignidade e honra versus a primária sobrevivência, ou os caminhos a tomar para o mal-são «temos de seguir em frente...», após um profundo abalo psicológico e emocional, não se tornarem um trilho que um dia nos surja como uma opção para minimizar a dor de que nos envergonhamos.
o outro conto que 'mexeu-me' foi o "Casamenteiros". aliás, as razões disso estão presentes nos outros contos do livro, é cunho de Chimamanda Adichie a exposição e denúncia da violência psicológica sobre a Mulher, naturalmente versando a mulher africana. lá, em África, ou a imposta (defensivamente auto-imposta tantas vezes) pela integração migratória em culturas e sociedades tão diferentes da sua original, algo como uma prostituição sociológica que pertence ao dia-a-dia e nos passa diante dos olhos como indiferente e menor, mas que retratado e contado pelos olhos e sentimentos da vítima dói, doem. não estou a fazer capelinhas condescendentes em prol duma qualquer especialmente triste saga da mulher africana na diáspora se comparada com todas as outras - muito além dum espartilho de género, julgo. apenas que ao caso concreto das dores africanas ela trata-as com um chapadão forte, tanto que o livro corre contos e enredos ou pousa-se mas o meditativo enriquece-nos.
ok. venha o Americanah. Chimamanda Ngozi Adichie é uma dos meus autores de culto, e além do superior ou irrelevante valor destas mui doutas classificações certamente continuará «muito cá da casa», carinho que almejo com o novo romance até reforçado.
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