avanço com dificuldade no Correcções. não ando numa fase pessoal em que aceite os prazeres que há no quotidiano, e se me rio com o mosaico humano do minúsculo café onde bico a pantomina de normalidade, outros, outras, passam-me ao alcance da mão sem que a estenda e os agarre.
o livro. é literatura maiúscula, musculada, em cada página uma explosão de ideias que se associam, colagens alternativas duma vida que é vida mas não é livro. é literatura. e eu sou o thriller que correu rápido demais , quando estas páginas e dias deviam ser escritos com o vagar e a minúcia do sabor dos pormenores. a diferença da literatura, a tristeza que não se esconde quando nas páginas encontro as razões de tudo contar. escrever é tudo, tudo, menos o erro ortográfico do medo. escrever-de-escrever é coragem, um strip-tease que não é exibicionismo (esse sim: cobardia) mas partilha silenciosa, toma e agarra, e contada em boa escrita. Jonathan (Franzen) é mais um. e eu leio. neste ritmo leio uma, duas páginas por dia. àquele ritmo uma hora leva-se em vinte páginas a contá-la – e sei lá o que “ele” silencia.
o silêncio. este, que o Facebook ou o blogue denunciam (quem me conhece não me reconhece). os livros dos outros pousados, olhados com carinho. e esta folha que sempre me chama, se estende, se enche, onde falo as palavras que nunca conseguirei dizer. o silêncio é bonito. há páginas e páginas cheias dele e tão bonitas que são. é pena que não se leiam os silêncios daqueles com que nos cruzamos, que haja tantos livros por ler, tanto quotidiano rico de nadas bonitos por contar, escrever.
eu maravilho-me facilmente, sei. por isso pouso o livro a meio da página e encho duas ou três do caderno. e o tanto que nunca chega ao caderno e perde-se minutos depois de construído, imaginado e desenhado, mentalmente redigido e sorrido, a boca num sorriso quando o Manel toca a gaita, e todos protestam «cala-te, Manel!» mas todos gostam. o Manel toca bem. toca bem as que sabe, e que julgo serem três: o sucesso é a do apita o comboio, mas os olhos humedecem-se disfarçadamente quando toca aquela que fala nos anos que já lá vão, e o nosso íntimo abre-se em memórias doces quando a gaita canta dos meninos à volta da fogueira. aquele café é uma tasca, felizmente. rica. disse felizmente e eram mais não sei quantas folhas a explicar-vos porquê, e não é necessário. vocês:. Jonathan era gajo para ficar cliente. ando lá todos os dias e avanço passo-a-passo no livro, que as minhas correcções acho-as tão difíceis que me acobardo em descrevê-las. mas vocês sabem. ou calculam. todos temos correcções adiadas. escrevê-las é parte da pantomina, é a ilusão de realizá-las, uma folha cheia é o palácio dos tristes. chega-se a acreditar que o silêncio não existe, mas está ali o livro a chamar-me e a desmentir-me.
nunca ninguém me ouvirá duas palavras disto (ou assim). dizer que não tenho tempo é uma forma de dizer que tenho medo, e quando me visto então leio e se me dispo escrevo. o que eu gostava era ser poeta. mas se tento desconsigo, se julgo que me encontro escondo-me. um dia destes desapareço.
(com o patrocínio da Biblioteca Municipal Marquesa de Cadaval, que me emprestou o Correcções)
o livro. é literatura maiúscula, musculada, em cada página uma explosão de ideias que se associam, colagens alternativas duma vida que é vida mas não é livro. é literatura. e eu sou o thriller que correu rápido demais , quando estas páginas e dias deviam ser escritos com o vagar e a minúcia do sabor dos pormenores. a diferença da literatura, a tristeza que não se esconde quando nas páginas encontro as razões de tudo contar. escrever é tudo, tudo, menos o erro ortográfico do medo. escrever-de-escrever é coragem, um strip-tease que não é exibicionismo (esse sim: cobardia) mas partilha silenciosa, toma e agarra, e contada em boa escrita. Jonathan (Franzen) é mais um. e eu leio. neste ritmo leio uma, duas páginas por dia. àquele ritmo uma hora leva-se em vinte páginas a contá-la – e sei lá o que “ele” silencia.
o silêncio. este, que o Facebook ou o blogue denunciam (quem me conhece não me reconhece). os livros dos outros pousados, olhados com carinho. e esta folha que sempre me chama, se estende, se enche, onde falo as palavras que nunca conseguirei dizer. o silêncio é bonito. há páginas e páginas cheias dele e tão bonitas que são. é pena que não se leiam os silêncios daqueles com que nos cruzamos, que haja tantos livros por ler, tanto quotidiano rico de nadas bonitos por contar, escrever.
eu maravilho-me facilmente, sei. por isso pouso o livro a meio da página e encho duas ou três do caderno. e o tanto que nunca chega ao caderno e perde-se minutos depois de construído, imaginado e desenhado, mentalmente redigido e sorrido, a boca num sorriso quando o Manel toca a gaita, e todos protestam «cala-te, Manel!» mas todos gostam. o Manel toca bem. toca bem as que sabe, e que julgo serem três: o sucesso é a do apita o comboio, mas os olhos humedecem-se disfarçadamente quando toca aquela que fala nos anos que já lá vão, e o nosso íntimo abre-se em memórias doces quando a gaita canta dos meninos à volta da fogueira. aquele café é uma tasca, felizmente. rica. disse felizmente e eram mais não sei quantas folhas a explicar-vos porquê, e não é necessário. vocês:. Jonathan era gajo para ficar cliente. ando lá todos os dias e avanço passo-a-passo no livro, que as minhas correcções acho-as tão difíceis que me acobardo em descrevê-las. mas vocês sabem. ou calculam. todos temos correcções adiadas. escrevê-las é parte da pantomina, é a ilusão de realizá-las, uma folha cheia é o palácio dos tristes. chega-se a acreditar que o silêncio não existe, mas está ali o livro a chamar-me e a desmentir-me.
nunca ninguém me ouvirá duas palavras disto (ou assim). dizer que não tenho tempo é uma forma de dizer que tenho medo, e quando me visto então leio e se me dispo escrevo. o que eu gostava era ser poeta. mas se tento desconsigo, se julgo que me encontro escondo-me. um dia destes desapareço.
(com o patrocínio da Biblioteca Municipal Marquesa de Cadaval, que me emprestou o Correcções)
Sem comentários:
Enviar um comentário