sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

bordoada no politicamente correcto


não gosto das leituras políticas e sociais de José Manuel Fernandes, mas não me esquivo às palmas daqui transcrever esta sua nota, publicada no 'Público' de hoje:

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"Thatcher, Merkel e o preconceito antifeminino de certa esquerda portuguesa"

Imaginemos que descrevíamos assim Mário Soares: político formado no Portugal provinciano e autoritário de Salazar, filho de um antigo presbítero. Seria verdadeiro mas também seria, no mínimo, preconceituoso. Contudo, é de uma forma semelhante que, por regra, Mário Soares se refere a Angela Merkel: "formada no Leste comunista alemão e filha dum pastor protestante", escreveu ainda esta semana no 'Diário de Notícias'. E o que é estranho, é ninguém se chocar. Será por Merkel ser alemã? Por ser mulher? Por a frase vir de Mário Soares?

Talvez por ter acabado de ver o filme 'A dama de ferro', a frase incomodou-me. Thatcher também era tratada como sendo "a filha do merceeiro" - há uma extraordinária cena em que um grupo de atarantadas luminárias do Partido Conservador mostra o seu incómodo por não conhecer o preço dum pacote de manteiga... -, apesar de ser, também, a filha de um antigo presidente de câmara (a quem, de resto, ouvimos um dos melhores discursos políticos do filme).

O preconceito antifeminino assume várias formas, e é especialmente gritante quando mulheres que chegam ao poder (Thatcher, Merkel, à nossa dimensão Manuela Ferreira Leite) o fazem sem concessões ao feminismo militante. Mário Soares, até porque já o sabíamos desde que, em 1999, perdeu uma eleição no Parlamento Europeu para Nicole Fontaine e a apodou de "dona de casa", não será até o melhor exemplo. Tão ou mais significativa era a forma como, no Largo do Rato, se tratava Ferreira Leite - "a bruxa" -, algo inconfessável em público mas revelado nas escutas do 'Face Oculta'. Também então muitos reagiram com condescendência. Sobretudo à esquerda. Sobretudo entre os campeões do politicamente correcto.

Ao pé dos preconceitos antifemininos reinantes em boa parte da elite portuguesa, os preconceitos dos barões do Partido Conservador britânico no tempo de Margaret Thatcher são coisa de aprendizes. Basta puxar pela língua ao ícone dos ícones, Mário Soares...

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aliás, bato-lhe palmas com o entusiasmo que se dedica às galhetas que amarfanhem as nossas raivas de estimação. neste niquito de prosa venenosa, magoando bem além do político Mário Soares (até o prezo...), recolhido como exemplo - pôs-se a jeito... -, essa cretinice que se insinua, conspurcando, algumas mentes que bem podiam ser o que não são nem nunca serão, com ela: o vírus cobardolas do politicamente correcto, pecha prima direita da escrita com aparo, tinta e palas exclusivamente recrutadas na militância.


(imagem sacada via Google Imagens)

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