quarta-feira, 17 de março de 2010

divagando e resmungando

Há dias recebi este boneco, em glosa ao nosso desporto predilecto: a evasão fiscal. Respondi e e-mailei para mais com meu anexo de resmungos e divagações. Cá ficam.



Será da mentalidade latina, mediterrânica? Nos países anglófonos, nos nórdicos, nos da Europa central - com exclusão da gipsy Roménia e pouco mais haverá como excepção - a fuga aos impostos é considerada um crime grave, porque social: entende-se, e bem, que 'roubar' ao Estado é 'roubar' ao vizinho, e até aos próprios e seus descendentes.

Numa Suiça ou numa Suécia era impensável existir a rebaldaria que connosco houve nos anos 80's com os subsídios agrícolas. Que igualmente existiu na França, na Itália, etc.
Não seria estranho se o próprio vizinho primeiro nos desse um aviso privado para regularizarmos a situação e, após isso, não tendo existido reacção positiva, era ele quem nos denunciava se soubesse que o subsídio para o furo fora gasto num Mercedes ou num jeep ou noutra tralha qualquer.
Nos USA, ainda eram os anos 20's, o Al Capone matou e mandou matar, roubou e contrabandeou, e só o engavetaram à conta larga por um crime fiscal. Porque já existia moldura penal alargada para esse tipo de crimes e a reprovação social existe.

Cá, há um piscar de olho cúmplice: «aquele é que é esperto!» - pois não existe a cultura de reprovar este tipo de criminalidade.

Por outro lado a carga fiscal é alta para tentar equilibrar com a fuga, que continua alta embora a malha tenha apertado. Mas a fuga é alta porque a carga é excessiva, ouve-se o argumento.

Excessiva? Mas na Suécia e na Finlândia não se pagam até 60% dos rendimentos para impostos? Pois é. Mas recebem apoios sociais que para nós seriam o céu. Pagos com o dinheiro dos impostos, lá está...
Claro que assim só quem é rico terá o impulso de tentar fugir ao pagamento da carga fiscal, que possui meios próprios para não precisar da ajuda estatal para nada, ele e a prole. Porém o cidadão médio não pensa assim.
Cá? todos pensam em fugir. Porque o que recebem como troco é normalmente curto, além da ameaça de em cada amanhã que venha ser ainda menor.

A pescadinha de rabo na boca... Afinal uma desculpa mais elaborada para o fechar de olhos que socialmente praticamos?

Não sei responder. Penso mesmo que "não temos solução", é do sol, do calor, da herança moura. A evassão fiscal é desporto com mais simpatizantes que o futebol: mesmo quem não joga manda o rabo do olho ao jogo, e, se resmunga com as notícias sobre "os ricos", diz «ora bem!» se o canalizador lhe pergunta se quer pagar com factura ou sem factura a reparação, idem ao mecânico que mudou o óleo ao carro, ao pedreiro que fez as obras na cozinha, ao...

Ao, ponto. Somos assim.

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